Muito se fala e se sabe a
respeito da santa inquisição, desnecessário é comentar acerca dos séculos de
perseguições, torturas e assassinatos cometidos pela Igreja Católica Apostólica
Romana em nome de Deus. O assustador é que, ainda hoje, existem pessoas que
tentam justificá-la recorrendo a teorias capengas, dentre elas a mais estranha
é que a “igreja é santa e pecadora”.
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Todavia, pouco se comenta e
nada se vê nos livros didáticos acerca da inquisição protestante, tão
sistemática em sua brutalidade quanto a sua congênere católica. Os reformistas estavam
cobertos de razão ao se insurgir contra os abusos cometidos pela igreja, então,
oficial. Porém, como de praxe, quando institucionalizado o protestantismo, e
este tornou-se religião oficial principalmente dos países escandinavos pela conversão
e vontade soberana de seus monarcas, os reformistas passaram a adotar o mesmo modelo utilizado pelo santo
ofício.
Na Suíça, um dos berços da
Reforma e onde ela se mostrou bastante
radical, João Calvino (1509-1564), que devido a autoridade que exercia sobre os
protestantes suíços, ficou conhecido como o “papa de Genebra”. Ao organizar a
Igreja Presbiteriana, instaurou comissões compostas de religiosos e leigos: a Venerável Companhia, responsável pelo
magistério, e o Consistério, que
zelava pela disciplina religiosa, a população era proibida de cultivar certos
hábitos, como jogar, dançar e representar. Para isso, fundou a “polícia
da fé” promovendo visitas a
residências e espionagens, em busca de confissões e denúncias levando muitos à
prisão, à tortura, ao julgamento e, em alguns
casos, à morte.
Ainda Calvino, considerado
o pai dos presbiterianos, mandou queimar o espanhol Miguel Servet Grizar,
médico descobridor da circulação sanguínea. Acusado de heresia, Servet foi
preso e julgado em Lyon, na França. Conseguiu evadir-se da prisão e quando se
dirigia para a Itália, através da Suíça, foi novamente preso em Genebra,
julgado e condenado a morrer na fogueira, por decisão de um tribunal
eclesiástico sob direção do próprio Calvino. A sentença foi cumprida em
Champel, nas proximidades de Genebra, no dia 27 de outubro de 1553. Puseram-lhe
na cabeça uma coroa de juncos impregnada de enxofre e foi queimado vivo em fogo
lento com requintes de sadismo e crueldade.
Na Alemanha, Martinho Lutero
(1483-1546), quem não o conhece dos livros de história em retrato pintado por
Lucas Granach, exigiu perseguições aos Anabatistas, grupo protestante mais
radical da Reforma, porque, entre outras questões, eles não aceitavam as regras
da Igreja Evangélica e divergiam sobre o batismo. A decisão causou a expulsão,
o encarceramento, a tortura e a execução de cerca de 30.000 camponeses. Lutero
também divulgou textos com críticas aos judeus – embora sem maiores
repercussões na época, estes escritos acabariam utilizados pela Alemanha
nazista, em pleno século XX.
A inquisição protestante
também tem seu Torquemada, O luterano Benedict Carpzov, foi legista brilhante
e figura esclarecida. Perdia a compostura quando o assunto era a bruxaria, que
considerava merecedora de torturas três vezes intensificadas com respeito a
outros crimes, e cinco vezes punível com pena de morte. Protestante fanático,
afirmava, quando velho, ter lido a Bíblia inteira 53 vezes. Assinou sentença de
morte contra 20.000 bruxas, apoiando-se principalmente na "Lei" do
Antigo Testamento. Não compreendendo o verdadeiro significado da Bíblia,
considerava o Pentateuco como lei promulgada pelo próprio Deus, Supremo
Legislador. Carpzov, para condenar a morte, usava (Lv 19,31; 20,6.27; Dt
12,1-5), citava de preferência o Êxodo (22,18); "Não deixarás viver a feiticeira".
Outro famoso perseguidor de bruxas na Alemanha, foi
Nicholas Romy, considerado grande especialista e que escreveu um longo tratado
sobre bruxaria, teve sobre sua consciência a morte de 900 pessoas.
Froehligh, reitor da Universidade de Innsbruck e catedrático de Direito, que
chegou a ser chanceler da Alta Áustria, insistia na condenação não só das
supostas bruxas, mas também de seus filhos! E não se precisava muito para ser
considerada bruxa, pois o seria qualquer pessoa que não tivesse um olhar
franco.
Franz Buirmann, pervertido magistrado protestante e degenerado inimigo da
bruxaria. Era um juiz itinerante. Referindo-se a ele dizia seu contemporâneo
Hermann Loher: "Preferiria mil vezes
ser julgado por animais selvagens, cair numa fossa cheia de leões, de lobos e
ursos, do que cair em suas mãos".
Deste impiedoso juiz se afirma que somente em duas incursões que realizou por
pequeninas aldeias ao redor de Bonn, que perfaziam um total de 300 pessoas
contando-se crianças e velhos, queimou vivas nada menos que 150 pessoas! Consta
que ao menos em duas oportunidades (da viúva Boffgen e do Alcaide de
Rheinbach), o juiz se apoderou de todos os bens dos condenados à fogueira (o
Alcaide de Rheinbach era um notório inimigo político).
Em Bamberg, sob a administração de um bispo protestante, queimou-se 600
pessoas. Na Genebra protestante, foram queimadas 500 pessoas no ano 1515.
W. A. Schoeder, contemporâneo aos fatos, anotou que
nas localidades de Bamberg e Zeil, entre 1625 e 1630, (5 anos) se realizaram
nada menos que 900 processos de
bruxaria. Deles (numa exceção), 236 terminaram com condenação à morte na
fogueira. Só num ano, 1617, em Wurzburgo, foram queimadas 300 bruxas; no total
na região, as atas apresentam l.200 condenações à morte
Em 20 anos, de 1615 à 1635, em Estrasburgo, houve 5.000 queimas de bruxas
Em cidades pequenas como a imperial Offenburg, que só tinha entre dois e três
mil habitantes, se desenvolveram acérrimas perseguições às bruxas durante três
decênios, e em só dois anos, segundo as atas, foram queimadas 79 pessoas
Na Suíça protestante, os casos de condenação de
bruxas descritos nas crônicas, chegam a 5.417. Nos Alpes Austríacos, as mortes chegaram ao menos a 5.000.
No ano 1670, na Suécia, houve um processo
deplorável: Como conseqüência das declarações, arrancadas pelos interrogatórios
feitos pelos teólogos protestantes, foram queimadas 70 mulheres, açoitadas mais 56, queimadas 15 crianças que
já tinham chegado aos 16 anos e outras 40 foram açoitadas.
Na Alemanha protestante, o poder civil condenou Anna Maria Schwugelin. Foi
decapitada como bruxa em 1759.
A
experiência persecutória européia foi ainda levada pelos Puritanos, seita
protestante oriunda da Inglaterra, para as colônias na América do Norte, como
no famoso episódio das “bruxas de Salem”, ocorrido em Massachusetts, em fins do
século XVII, em que várias adolescentes foram mortas, acusadas de promover
reuniões em torno de uma fogueira nas quais, supostamente, invocavam espíritos.
Acredito
que esta lista de horrores é mais do que suficiente para corroborar minha
afirmativas e estendê-la seria, além de fastidioso, desnecessário. O cerne da
questão é que em matéria de crueldade e sadismo uns nada devem aos outros, e a
Reforma protestante tem sua gênese no seio da própria igreja, Pois Martinho Lutero era um clérigo católico
bastante conhecido por seu estilo brilhante ao discorrer sobre matéria
teológica. Mas, antes de tudo um homem. Não é a nossa inclinação religiosa que
nos define como homens bons ou maus. Uma denominação religiosa não é superior a
qualquer outra.
O
que se subsume do assunto em questão é que tanto uns quanto os outros, tem
matado mais em nome de Deus do que aqueles que não professam nenhum tipo de
credo. Após pesquisar detidamente sobre o tema, e de forma auto didática,
penetrar na seara da religião comparada, só me restou a imparcial via do
agnosticismo e da cautelosa busca de um senso de justiça que tem como broquel a
tolerância e a moderação. Desviar-se disso é virar presa fácil do fanatismo e
da ignorância que apaga o lume do mundo.
By
Douglas Martínez