sábado, 12 de janeiro de 2013

ACORDANDO O MUNDO


ACORDANDO O MUNDO

Ridendo castigatum mores

Os que leram neste blog a cronica “SÓ OS PESOS PESADO”, seguramente, se aperceberam da abordagem bem humorada do tema, não obstante a sua seriedade e complexidade, vez que trata de assunto tão delicado que é a fé.
Entretanto, esse é justamente o cerne da questão. A que se propõe esse blog? 

 Não nos arvoramos em estrelas guias ou mesmo  portadores de verdades absolutas, iquestionáveis. Não! é justamente o contrário. Queremos, através de cronicas alegres, revestidas de uma ironia refinada, despertar nas pessoas que demostrarem a paciencia de nos ler, o espírito questionador, curioso, insaciável em sua busca da verdade.

Temos abordado os temas mais variados, não queremos nos prender somente à política ou à religião. Não! qualquer assunto que possa ser usado por uma minoria para encabrestar uma pessoa que seja, é do nosso interesse. Se apenas um “acordar”, estaremos felizes, não com a sensação de dever cumprido, porém animados a continuar a acender velas a cada vela que se extingue. Fiat lux.

A verdadeira ignorancia não está na falta de conhecimento, e sim na ilusão de possuí-lo. Muitas pessoas repetem citações deste ou daquele livro sagrado ou profano, sem nunca sequer te-lo folheado. Embalados apenas por interpretações quase sempre equivocadas ou propositalmente deturpadas. O que é grave em tudo isso é que fazem disso um verdadeiro manual de intruções de viver e acabam sempre sugados por algum tipo de preconceito, seja religioso, étinico ou de tendencia.

Doravante, assumiremos posições que incomodarão todos os hipócritas do mundo, não temos medo do que pensarão, pois o pensar equivocado tem acopanhado o homem desde que ele tomou consciencia de sua condição de ser evoluido.

Os intransingentes e intolerantes estão de plantão e eles não descansam nunca, não queremos agir à guisa de iconoclastas. Todavia, não podemos aceitar que as trevas perdurem além do que deveriam perdurar.

Temos sido alvos de ataques desnecessários. Temos visto que grupos religiosos que professam uma creça fundada em valores dualistas que deveriam permanecer no sec. II, quando a palavra heresia foi cunhada. Quando o bem e o mal, o preto e o branco, a noite e o dia determinavam de que lado se deveria ficar. Ora, não lhes direi o que devem fazer, pois a consciencia humana limpa é o grande norteador das decisões acertadas.

Não queremos seguidores, pouco nos importa o número de pessoas que acessem nosso blog. Nos importa quem esteja realmente interessado na evolução do pensamento humano, no altruismo, na idéia geral de que a espécie humana é originária de um mesmo ramo de seres.

Queremos formar um exército  de seres humanos que mereçam esse status. Que não sejam tolerantes com o preconceito de qualquer natureza, com a injustiça, com a fome de seu semelhante, com a impassividade diante da dor da mulheres estupradas, das crianças molestadas, nas minorias étinicas humilhadas, principalmente diante do não se importar com nada, pois, quando o ser humano perde essa capacidade de emocionar-se com o desespero daquele que está ao seu lado, certamente se esqueceu de sua condição gregária. Nesse momento, os lobos e suas matilhas passam a ter mais valor que nós!

Aos homens inteligentes!!! O que tem movido o mundo é nossa curiosidade científica, nossa isenção quando apreciamos o que é relevante, e principalmente, como bons agnósticos, a busca livre e descompromissada com qualquer credo, das verdades que realmente deveriam importar à espécie humana.

Não somos judeus, cristãos, hindus, islamitas, apenas pessoas racionais que elevam o ser humano acima de qualquer ideologia que coloque o homem contra o homem!

Post scripitum: Sempre olhem debaixo do tapete...

By Douglas Maertinez

domingo, 6 de janeiro de 2013

SAIAM DA CAVERNA

 
Amanheci um pouco mal humorado, pois o famigerado BBB já está às portas e em sua esteira uma gama de tipinhos imbecis, que me fazem achar uma iguana, com aquela sua cara de idiota mal humorada mais interessante. 

Não sei qual o critério utilizado pela rede esgoto para selecionar os participantes, decerto não o bom gosto, vez que são pessoas cheias de chiliques e outras frescurinhas, burras, mal educadas, preconceituosas, artificiais. Não acredito que aquelas pessoas repesentem pelo menos o cidadão medio brasileiro.

Quando saem da casa são recebidos por uma legião de admiradores, não obstante não haver nada para se admirar, pois não tem qualquer tipo de talento a não ser, quem sabe, no quesito imitar gralhas com aqueles gritinhos esganiçados. 

Enfim, gostaria que o público mediano pelo menos chegasse à conclusão óbvia de que tais programas conseguem apenas enriquecer uma minoria e, como contrapartida, mantem uma maioria em uma escuridão intelectual cada vez maior, tanto que insistem em permenecer dentro da caverna e matam qualquer um que ousar acender que seja um palito de fósforos. Ex dit!!!

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013


HABEMUS PAPA

No primeiro dia do ano , para o bem de todos e felicidade geral do Estado do Amapá, terminou o desastroso mandato de sua santidade Roberto XII, e em seu lugar assumiu o ungido do povo Clécio XL, sem a fumacinha branca de praxe, pois Roberto  XII sequer apareceu para a cerimonia de posse de seu sucessor, demonstrando com isso, total desrespeito para com a  vontade popular.

Clécio recebeu um feudo,  pois assim Sua Santidade tratava a cidade de Macapá, coberto de lixo domiciliar, pois a coleta há muito não vinha sendo feita em razão do não pagamento da empresa contratada para esse fim.

A saúde pública municipal encontra-se entregue às baratas, o que contrasta com os números demonstrados por Sua Santidade na propaganda de final de campanha, quando tentava fazer o povo acreditar que havia comprado montanhas de medicamentos, que os funcionários estavam felizes e regiamente pagos. Hoje o que se vê é exatamente o contrário, a migração da população da periferia para o centro em busca de atendimento no Hospital de Emergências, pois as unidades básicas de saúde estão fechadas e a classe de servidores dessa categoria ligando para as emissoras de rádio em busca de socorro, vez que não recebem seus vencimentos.

Servidores das mais diversas categorias acusam pelos meios de comunicação o não recebimento de seus vencimentos do mês  de dezembro e décimo terceiro salário. Ou seja Clécio herdou de Roberto não  uma prefeitura, mas sim  duas plantações, uma de abacaxi e outra de pepino. 

Aliado a isso há o fato de que as dívidas ultrapassam a soma de duzentos milhões de reais. O mais grave é que essas mesmas pessoas que hoje se lamentam, quase reelegem esse desastrado, que não teve sequer a dignidade de,  em respeito ao povo, passar a faixa a seu sucessor e rezam, ainda,  algumas emissoras que Clécio recebeu as chaves da prefeitura de um humilde vigilante. A que ponto chegamos!

As pessoas que conhecem Clécio, sabem que trata-se de um jovem idealista que até então encara a probidade administrativa como uma espécie de credo. Digo até então, pois é da natureza humana curvar-se às conveniências. Todavia, acreditamos e, só  nos resta acreditar, que dias melhores virão, pois Clécio não parece ter dobradiças na coluna dorsal e só se curvará à vontade soberana do povo, de quem agora é servidor. 
By Douglas Martínez.


   


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

E AGORA J. JUNIOR, JUNTE AS PENAS!




Meu caro jornalista, me perdoe, talvez, o mau jeito ao te admoestar quando você incitava o povo contra o Sargento Heleno da Polícia Militar do Amapá, aquele acusado de violentar o próprio filho. Sim, usei o termo violentar, pois o termo estuprar não é aplicável ao caso, vez que o estupro só se dá entre homem e mulher, isto é com o intróito do penis intra vagen

Nobérrimo jornalista, se me permite superlativar, o Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito decretou o fim da medida restritivas de liberdade do sargento, posto que, o acusado, como eu dissera anteriormente, não estava preso nem em flagrante nem preventivamente, e sim se encontrava recolhido às dependências do quartel por decisão da justiça, atendendo a pedido da esposa do acusado que lhe imputava, também, o crime de ameaça.

O Douto Magistrado, após minudente  exame  das razões que lhe foram expostas e, ao tomar conhecimento, dentre entras coisas, de que a esposa do requerente era dada a delírios típicos de sua enfermidade mental e de que o fato em questão estava ligado à suspensão por conta própria do medicamento controlado que lhe era administrado por médico competente e pelos meios regulares, e não para dopá-la como a mesma acusara o sargento, decidiu pelo fim da medida restritiva de liberdade por entender que a acusação era fruto de uma mente delirante. O que não significa o fim do processo, esse seguirá seu curso regular sem o açodamento antevisto inclusive na conduta da representante do Conselho Tutelar, quando todos terão o direito de se pronunciar. 

A isso se chama caro repórter de direito a ampla defesa e ao contraditório. O simples fato de uma pessoa acusar outra não significa que seja culpada, não importa quem acuse. Não se fere a dignidade de ninguém achando que pode remendá-la mais adiante. Isso não funciona, caro jornalista!!! 

Existem congêneres seus que foram bastante cuidadosos ao noticiar tal fato, tais como o Delegado Ericlaudio Alencar, apresentador do Rota 16. Vale lembrar, também, dos jornalistas Paulo Silva e Domiciano Gomes, apresentadores do programa Pauta Livre da Rádio Transamérica FM, que foram, também, bastante parcimoniosos ao noticiar, inclusive comentando que viam os fatos com bastante reserva, pelo que de fantasioso, pois a praça onde, em tese, ocorreram os fatos, não é deserta como se afirma??? Aprenda com eles meu caro repórter, pois a isso se chama jornalismo.
Por falar em jornalismo, é preocupante a quantidade de programas policiais que pipocam diariamente em nossas emissoras de radio e televisão, nos quais, exceto uns poucos, não se vislumbra o mínimo critério na apresentação da notícia e, sim, um sensacionalismo de feira. Muitos daqueles que lá estão expostos não são criminosos e, sim, apenas pessoas pobres que servem em sua maioria de matéria de exploração para esses falsos noticiosos.
Me cansa ver a enxurrada de caras novas armadas de crachá e microfones, ferindo de morte a língua portuguesa, misturando advérbios de tempo, lugar e modo como se tudo isso fosse apenas repolho e couve. Entretanto, essas caras novas não tem culpa e sim quem as usa, elas são atraídas apenas pelo falso glamour de trabalhar nos meios de comunicação de massa, mesmo que ganhando salários aviltantes.
Para finalizar meu caro repórter, o Sargento Heleno, em razão de sua parcela de contribuição bastante substancial no seu linchamento moral, tem medo de sair às ruas e ser atacado por este ou aquele ouvinte seu mais afoito. Ah! Não me esqueci não, o senhor está sendo gentilmente convidado a começar a juntar as penas.
By Douglas Martínez

sábado, 22 de dezembro de 2012

ANGELITA E O ADAGIO DE ALBINONI




Há alguns anos atras, fui convidado para uma recepção na casa de um amigo frances em homenagém a seus pais recém chegados da Europa para visita-lo.

A certa altura da conversa que se desenrolava bastante animada sobre musica erudita, sem nada dizer, pedi ao musico para tocar ao piano o Adagio de Albinoni. Logo nos primeiros acordes percebi  um brilho diferente nos olhos da mãe do anfitrião, senhora, à época, quase nonagenaria.

Seu nome, Marguerite Betini, ouviu toda a peça em silencio com olhar perdido no vazio e no rosto a expreção da serenidade. Ao final da musica me agradeceu e perguntou se seu filho havia cobinado comigo para lhe fazer aquela surpresa, pois tal musica tinha para si um sentido bastante profundo.  E me disse então: Vou lhe contar!

Durante a ocupação nazista na França, Marguerite, à essa época uma jovem  e bela dançarina de balet, apresentava em um teatro local uma peça que tinha como tema o Adagio de Albinoni. No meio da apresentação o teatro foi invadido por oficiais nazistas e policiais franceses do governo colaboracionista de Vichi. Foram todos presos e levados de Toulouse, sua cidade natal, para Lion onde estava instalado  o campo de concentração da França ocupada.

Foi jogada em uma cela  juntamente com outras trinta pessoas que sussurravam baixinho, pois sabiam que de algum lugar alguem os espionava intentando a obtenção de informações. De repente ouviram musica de gramofone. Era o Adagio de Albinoni. Todos ficaram em silencio escutando os acordes pungentes da bela canção, era um silencio reverente e mesclado de medo. Marguerite nada entendeu.

Apos o fim da melodia, apareceu diante da cela um jovem oficial SS elegantemente vestido em seu dolman negro, ostentando além de sua beleza ariana, a caveira e a suastica. Todos permaneceram em silencio com o terror estampado em seus rostos, se ouviam soluços aqui e ali entrecortados de preces.

Uma jovem e bela judia foi arrancada brutalmente da cela e levada por dois soldados que o escoltavam. Se ouviu novamente o Adagio, dessa feita, acompanhado de gritos de dor.

Os prisioneiros que já estavam la a mais tempo, lhe explicaram que sempre antes das sessões de tortura, estupros e outras vilezas, o monstro ouvia o Adagio de Albinoni.

Muitos  dos prisioneiros estavam bastante combalidos em razão dos maus tratos, da idade avançada e da ma qualidade da alimentação, o que levou Marguerite a dedicar seu tempo a oferecer-lhes cuidados que lhes amenizasse o sofrimento. Os mais jovens tomavam apenas a sopa rala e fétida e escondiam as codeas de pão para dar aos mais velhos a noite. Quando muito tiravam para si apenas um pedaço de pão que amassavam atê se tornar uma bola rigida que colocam sob a lingua, onde deixavam dissolver lentamente. Era um modo curioso de enganar a fome.

Em razão de seu espirito alegre e inquebrantavel e do carinho que dispensava aos outros prisioneiros, uma velha judia espanhola lhe apelidou de ANGELITA, pequeno anjo em espanhol. Nome com que Marguerite se apresentou ao nos conhecermos e que passou a adotar apos a libertaçao pelas tropas aliadas.

Angelita, não era judia, fora presa por fazer parte da resitencia francesa, pelo que foi brutalmente torturada. No carcere conheceu um jovem resistente, aquele que viria a ser o seu companheiro de toda a vida, o pai de seu filho.

Lhe perguntei a razão de tanta alegria depois de tudo que sofrera, ao que respondeu que, primeiramente, havia sobrevivido e la conhecera seu marido, que as torturas lhe ensinaram a conhecer seus limites, a levaram ao auto conhecimento, pois so aprendemos isso quando somos verdadeiramente colocados à prova, e principalmente aprendera a conhecer a natureza humana, o quanto de maldade poderia se esconder atras de um belo rosto, como o daquele jovem oficial. E disse com um sorriso radiante: E mais, ouviamos o Adagio todos os dias.

Angelita, não obstante seus quase noventa anos, tinha limpidos olhos azuis de adolescente que sorriam junto com seus labios. Era uma criatura apaixonante, daquelas que se fazem notar apenas com sua simples presença.

Angelita me disse então que perguntara, pro forma, seu eu havia combinado a surpresa com seu filho, pois sabia que tal não se dera, vez que o Adagio sempre estivera ligado aos eventos mais importantes de sua vida.

Esta manhã bem cedo, meu vizinho escutava o Adagio de Albinoni, não pude deixar de lembrar de Angelita. Onde estara, posto que jâ não esta mais entre nos. Se existe o paraiso idealizado pelas religiões, Angelita deve estar la em um lugar de honra, aqueles reservados aos anjos.
By Douglas Martinez.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

COMO CRIANÇA NATIMORTA





A democracia, como todas as criações do pensamento humano, tem apenas uma falha de concepção: Quem irá aplicá-la?

Marx, revoltado com as condições de desigualdade social que reinava  em sua época, idealizou o comunismo. Todos sabem no que deu!

Smith, com o boom da mecanização no início da  era industrial, achava que a grande produção de capital, geraria riqueza para todos. Os patrões ficariam mais ricos e teriam condições de oferecer melhores condições de existência para o operariado e, assim, a Europa inteira sairia da miséria. O que restou de tão nobre ideal? O capitalismo selvagem!

Quanto ao cristianismo, desnecessário qualquer comentário pela beleza de sua essência. Aí então, resolveram se organizar em grupos religiosos e, na defesa desses ideais chegaram aos extremos de proibir o livre pensar humano sob pena de ser queimado vivo.

O Homem, sempre o homem, desvirtua os mais elevados ideais e destrói tudo em seu redor em razão do que lhe seja conveniente. Para isso usa como  arma a religião, o capital e as conveniências políticas.

Quando a democracia despontou no Pórtico Pintado em sua beleza pura de criança neonata, imaginavam os atenienses que a partir daquele momento as intolerância, o despotismo, as desigualdades entre os homens haviam chegado a justo termo. Pobres filósofos, nada mudou. Para uns cicuta, para outros o garrote vil, e para a maioria, por ser mais espetacular, a fogueira!!

A democracia moderna, preferível a qualquer outra forma de ideal político, chegou aos seus extremos. Sustentamos uma classe de privilegiados que nos oferecem como contrapartida a improbidade. Não podem ser sequer investigados, e quando tal acontece, tentam impedir da forma mais ignóbil, como tentaram fazer com o Ministério Público amapaense.

Nos moldes de Orwel,  são mais iguaiszinhos do que outros diante da lei. Tem até foro privilegiado e imunidade que deságua na impunidade, pois normalmente as penas simbólicas que recebem, se julgados! Jamais prevê a restituição integral dos bens criminosamente desviados do tesouro público. 

São milhões e mais milhões, o que denota uma cupidez jamais vista, contrastando com as cadeias abarrotadas de ladrões de celulares Xing-ling. Miseráveis oriundos de favelas insalubres, do analfabetismo congênito, de tragédias humanas das mais diversas e desumanas que remontam a um processo de abolição irresponsável que lançou à própria sorte verdadeiras hordas de homens sem advir.

Hoje pareço bastante amargo, e estou. Não suporto mais a constância das notícias acera de desvios em vários setores da vida pública, que sempre culminam com a falta de verbas para escolas, saúde, moradias dignas e alimento, o mínimo que esses pobres brasileiro pobres desejam. Não querem foie gras, lhes basta apenas feijão com arroz.

Pobre democracia, felizmente ainda existem uns poucos homens capazes de te embalar no colo e de te acordar desse sono profundo de criança natimorta, para que com teu vagido acordes as consciências das massas adormecidas. Todavia, onde estão estes homens? Monstrem-me, quero prestar-lhes vassalagem!
By Douglas Martínez

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

ENTRE A CRUZ E A CALDEIRINHA, AS DUAS INQUISIÇÕES



Muito se fala e se sabe a respeito da santa inquisição, desnecessário é comentar acerca dos séculos de perseguições, torturas e assassinatos cometidos pela Igreja Católica Apostólica Romana em nome de Deus. O assustador é que, ainda hoje, existem pessoas que tentam justificá-la recorrendo a teorias capengas, dentre elas a mais estranha é que a “igreja é santa e pecadora”. ?????

Todavia, pouco se comenta e nada se vê nos livros didáticos acerca da inquisição protestante, tão sistemática em sua brutalidade quanto a sua congênere católica. Os reformistas estavam cobertos de razão ao se insurgir contra os abusos cometidos pela igreja, então, oficial. Porém, como de praxe, quando institucionalizado o protestantismo, e este tornou-se religião oficial principalmente dos países escandinavos pela conversão e vontade soberana de seus monarcas, os reformistas passaram  a adotar o mesmo modelo utilizado pelo santo ofício.

Na Suíça, um dos berços da Reforma  e onde ela se mostrou bastante radical, João Calvino (1509-1564), que devido a autoridade que exercia sobre os protestantes suíços, ficou conhecido  como o “papa de Genebra”. Ao organizar a Igreja Presbiteriana, instaurou comissões compostas de religiosos e leigos: a Venerável Companhia, responsável pelo magistério, e o Consistério, que zelava pela disciplina religiosa, a população era proibida de cultivar certos hábitos, como jogar, dançar e representar. Para isso, fundou a “polícia da fé” promovendo  visitas a residências e espionagens, em busca de confissões e denúncias levando muitos à prisão, à tortura, ao julgamento e, em  alguns casos, à morte.
 
Ainda Calvino, considerado o pai dos presbiterianos, mandou queimar o espanhol Miguel Servet Grizar, médico descobridor da circulação sanguínea. Acusado de heresia, Servet foi preso e julgado em Lyon, na França. Conseguiu evadir-se da prisão e quando se dirigia para a Itália, através da Suíça, foi novamente preso em Genebra, julgado e condenado a morrer na fogueira, por decisão de um tribunal eclesiástico sob direção do próprio Calvino. A sentença foi cumprida em Champel, nas proximidades de Genebra, no dia 27 de outubro de 1553. Puseram-lhe na cabeça uma coroa de juncos impregnada de enxofre e foi queimado vivo em fogo lento com requintes de sadismo e crueldade.

Na Alemanha, Martinho Lutero (1483-1546), quem não o conhece dos livros de história em retrato pintado por Lucas Granach, exigiu perseguições aos Anabatistas, grupo protestante mais radical da Reforma, porque, entre outras questões, eles não aceitavam as regras da Igreja Evangélica e divergiam sobre o batismo. A decisão causou a expulsão, o encarceramento, a tortura e a execução de cerca de 30.000 camponeses. Lutero também divulgou textos com críticas aos judeus – embora sem maiores repercussões na época, estes escritos acabariam utilizados pela Alemanha nazista, em pleno século XX.

A inquisição protestante também tem seu Torquemada, O luterano Benedict Carpzov, foi legista brilhante e figura esclarecida. Perdia a compostura quando o assunto era a bruxaria, que considerava merecedora de torturas três vezes intensificadas com respeito a outros crimes, e cinco vezes punível com pena de morte. Protestante fanático, afirmava, quando velho, ter lido a Bíblia inteira 53 vezes. Assinou sentença de morte contra 20.000 bruxas, apoiando-se principalmente na "Lei" do Antigo Testamento. Não compreendendo o verdadeiro significado da Bíblia, considerava o Pentateuco como lei promulgada pelo próprio Deus, Supremo Legislador. Carpzov, para condenar a morte, usava (Lv 19,31; 20,6.27; Dt 12,1-5), citava de preferência o Êxodo (22,18); "Não deixarás viver a  feiticeira".


Outro famoso perseguidor de bruxas na Alemanha, foi Nicholas Romy, considerado grande especialista e que escreveu um longo tratado sobre bruxaria, teve sobre sua consciência a morte de 900 pessoas.

Froehligh, reitor da Universidade de Innsbruck e catedrático de Direito, que chegou a ser chanceler da Alta Áustria, insistia na condenação não só das supostas bruxas, mas também de seus filhos! E não se precisava muito para ser considerada bruxa, pois o seria qualquer pessoa que não tivesse um olhar franco.

Franz Buirmann, pervertido magistrado protestante e degenerado inimigo da bruxaria. Era um juiz itinerante. Referindo-se a ele dizia seu contemporâneo Hermann Loher: "Preferiria mil vezes ser julgado por animais selvagens, cair numa fossa cheia de leões, de lobos e ursos, do que cair em suas mãos".

Deste impiedoso juiz se afirma que somente em duas incursões que realizou por pequeninas aldeias ao redor de Bonn, que perfaziam um total de 300 pessoas contando-se crianças e velhos, queimou vivas nada menos que 150 pessoas! Consta que ao menos em duas oportunidades (da viúva Boffgen e do Alcaide de Rheinbach), o juiz se apoderou de todos os bens dos condenados à fogueira (o Alcaide de Rheinbach era um notório inimigo político).

Em Bamberg, sob a administração de um bispo protestante, queimou-se 600 pessoas. Na Genebra protestante, foram queimadas 500 pessoas no ano 1515. 

W. A. Schoeder, contemporâneo aos fatos, anotou que nas localidades de Bamberg e Zeil, entre 1625 e 1630, (5 anos) se realizaram nada menos que 900 processos de bruxaria. Deles (numa exceção), 236 terminaram com condenação à morte na fogueira. Só num ano, 1617, em Wurzburgo, foram queimadas 300 bruxas; no total na região, as atas apresentam l.200 condenações à morte

Em 20 anos, de 1615 à 1635, em Estrasburgo, houve 5.000 queimas de bruxas

Em cidades pequenas como a imperial Offenburg, que só tinha entre dois e três mil habitantes, se desenvolveram acérrimas perseguições às bruxas durante três decênios, e em só dois anos, segundo as atas, foram queimadas 79 pessoas
 
Na Suíça protestante, os casos de condenação de bruxas descritos nas crônicas, chegam a 5.417. Nos Alpes Austríacos, as mortes chegaram ao menos a 5.000.
 
No ano 1670, na Suécia, houve um processo deplorável: Como conseqüência das declarações, arrancadas pelos interrogatórios feitos pelos teólogos protestantes, foram queimadas 70 mulheres, açoitadas mais 56, queimadas 15 crianças que já tinham chegado aos 16 anos e outras 40 foram açoitadas.

Na Alemanha protestante, o poder civil condenou Anna Maria Schwugelin. Foi decapitada como bruxa em 1759.

A experiência persecutória européia foi ainda levada pelos Puritanos, seita protestante oriunda da Inglaterra, para as colônias na América do Norte, como no famoso episódio das “bruxas de Salem”, ocorrido em Massachusetts, em fins do século XVII, em que várias adolescentes foram mortas, acusadas de promover reuniões em torno de uma fogueira nas quais, supostamente, invocavam espíritos.

Acredito que esta lista de horrores é mais do que suficiente para corroborar minha afirmativas e estendê-la seria, além de fastidioso, desnecessário. O cerne da questão é que em matéria de crueldade e sadismo uns nada devem aos outros, e a Reforma protestante tem sua gênese no seio da própria igreja,   Pois Martinho Lutero era um clérigo católico bastante conhecido por seu estilo brilhante ao discorrer sobre matéria teológica. Mas, antes de tudo um homem. Não é a nossa inclinação religiosa que nos define como homens bons ou maus. Uma denominação religiosa não é superior a qualquer outra.

O que se subsume do assunto em questão é que tanto uns quanto os outros, tem matado mais em nome de Deus do que aqueles que não professam nenhum tipo de credo. Após pesquisar detidamente sobre o tema, e de forma auto didática, penetrar na seara da religião comparada, só me restou a imparcial via do agnosticismo e da cautelosa busca de um senso de justiça que tem como broquel a tolerância e a moderação. Desviar-se disso é virar presa fácil do fanatismo e da ignorância que apaga o lume do mundo.
By Douglas Martínez